“A cena é a mesma, todos os dias: à hora do almoço, uma multidão silenciosa aglomera-se diante das grades da Câmara de Atenas, a dois passos da praça Omonia. Quantos são? Cem? Muitos mais?
“À noite, são duas ou três vezes mais”, diz, suspirando, Xanthi, uma mulher jovem que a Câmara encarregou de “controlar a multidão”. O ambiente fica tenso, quando os portões finalmente se abrem e as pessoas formam uma longa fila até ao balcão onde lhes é entregue uma Coca-Cola light e uma espécie de puré de batata, numa tigela de plástico.
Ouvem-se gritos e discussões. Tem de ser tudo muito rápido: a distribuição demora apenas meia hora. No meio de um certo número de marginais e de idosos que usam roupas velhas, destaca-se de imediato uma nova categoria de cidadãos, até agora pouco habituados a mendigar alimentos.”
Hoje, divulgou-se o nível de desemprego na zona do Euro em 2011: 10,4%. O maior, na Espanha (23%), mas taxas muito altas em países como Portugal (13,6%), França (9,8%) e Itália (8,6%).Cenas e números quase inacreditáveis para nós, que crescemos vendo o capitalismo europeu como a possibilidade de um estado de bem-estar social mesmo dentro deste sistema econômico.
O welfare-state, em nome da eficiência, foi sendo paulatinamente desmontado em nome da eficiência. Princípios dos partidos socialistas europeus, como a estatização do sistema bancário, bandeira de François Mitterrand, abandonados e tratados como “velharia de ideias” , obsoletas.
E, como a Europa do capitalismo social não reformou o sistema bancário, colocando-lhe algum nível de controle social, o sistema bancário reformou a Europa, colocando a sociedade europeia sob seu controle.
Reproduzo aí em cima o vídeo da entrevista da Presidenta Dilma Rousssef, que escapa, com firmeza, da estreiteza mental da nossa imprensa, que repete – a maioria sem saber – o discurso da guerra-fria, transformando as restrições do regime cubano como “justificativa” para toda a perseguição e bloqueio do maior – e mais armado – país do mundo a uma pequena ilha, há quase 50 anos.
É curioso que os “regimes amigos” dos EUA jamais sofram qualquer tipo de discriminação por esta questão e, com eles, seja legítimo termos relações de cooperação econômica.
Como é dever de qualquer governante que deseje a soberania de seu país, ela recusa discutir os problemas internos de outra nação.
Dilma, sem ser grosseira, ridiculariza a “idelologização” da mídia sobre a diplomacia brasileira, reaforma nossos desejo de colaborar – e não de colonizar – com as nações latinoamericanas e africanas e, na última provocação, sobre se iria ver Fidel Castro, não titubeira:
- Sim, com muito orgulho, eu vou.
É curioso que os “regimes amigos” dos EUA jamais sofram qualquer tipo de discriminação por esta questão e, com eles, seja legítimo termos relações de cooperação econômica.
Como é dever de qualquer governante que deseje a soberania de seu país, ela recusa discutir os problemas internos de outra nação.
Dilma, sem ser grosseira, ridiculariza a “idelologização” da mídia sobre a diplomacia brasileira, reaforma nossos desejo de colaborar – e não de colonizar – com as nações latinoamericanas e africanas e, na última provocação, sobre se iria ver Fidel Castro, não titubeira:
- Sim, com muito orgulho, eu vou.
O campo de Carioca é dos mais distantes da costa. Se a empresa petroleira não avisa, como se pode saber de um vazamento, ainda mais de pouca dimensão?
A empresa levou apenas cinco horas depois do acidente para tornar pública e informação, inclusive da dimensão do vazamento (até 160 barris, 5% do total admitido pela Chevron no poço do campo de Frade, no litoral fluminense.
O vazamento foi num tubo e o poço foi imediatamente fechado, para interromper o fluxo de óleo. A empresa diz ter mobilizado os recursos necessários para remover o petróleo vazado.
Já a petrolífera americana só admitiu à ANP o acidente mais de 48 horas depois do “kick” que, segundo ela,o teria causado e mais outras 24 horas para dar as primeiras e vagas informações públicas. E não tinha os meios adequados para monitorar e controlar o problema.
Qualquer vazamento de petróleo é grave, seja o óleo estatal ou “privatizado”, até porque a poluição não é ideológica. As autoridades públicas devem agir imediata e severamente.
Mas para agirem, precisam saber. E não é possível que a gente imagine poder haver um “fiscal” em cada um dos milhares de poços marítimos deste país e é por isso que se tornam relevantes as diferenças entre uma empresa pública, com responsabilidade social e outra, privada, como a Chevron.
Ainda mais nos poços do pré-sal, que apresentam vazões várias vezes maior do que os do pós-sal e onde, por isso, o mesmo tempo devazamento pode, em tese, representar volumes muito maiores de derrames.
Se já não bastassem todas as razões econômicas para que a operação destas jazidas fosse restrita à Petrobras, há esta, a da transparência ambiental.
O risco da atividade petroleira é grande e tem de ser administrado com rigor, sem restrições econômicas ou das razões de mercado das petroleiras.
30
Jan
Jan
A entrevista sobre o PDT
Muitos devem ter lido o noticiário sobre o PDT nos sites, com declarações que fiz após a reunião do Diretório Nacional do partido. Em geral, pelo que li, elas traduzem corretamente o que disse. Demorei um pouco, tentando obter um vídeo com áudio melhor mas, como não o consegui ainda, vai este, com muitos ruídos. Para quem quiser saber o que declarei – e que é o que penso – sobre a necessária revitalização do trabalhismo, conservando seus compromissos históricos e sobre o meu entendimento de que, no presidencialismo, compete à presidenta escolher aquele que venha a ser seu escolhido e que aos partidos cabe fazer indicações se e quando solicitados a isso.
E o gráfico que vai aqui no post, mostrando que a tendência de queda da inflação, que a gente vem mostrando aqui faz tempo, não era surpresa para ninguém no “mercado” muito antes de o Banco Central decidir começar a baixar os juros.
O IGP-M de janeiro, de 0,25%, é o menor já registrado, exceto pelo medido em plena crise mundial, em janeiro de 2009.
A inflação de janeiro, que costuma ser alta, não vai ser baixa, não, pela variação do preço dos transportes, dos alimentos e das escolas.
Mas seus fundamentos nos preços do atacado são de correção baixa ou nula dos preços. E, dependendo de novos abalos na Europa, até mesmo de baixa.
A urubulândia, que sonhava com um descalabro nos preços para continuar sua cantilena da impossibilidade de um crescimento forte do país lutou – e ainda luta – o quanto pôde.
Mas perdeu, embora tenha conseguido criar um clima de expectativa por aumento de preços que é extremamente prejudicial.
Que, porém, se desfará, como tudo que não tem base na realidade.
E, acintosamente, apesar de ser ela reconhecida por todos como pessoa que construiu uma história de competência desde que entrou há quase 30 anos, por concurso na empresa, depois de ter sido estagiária, diz que ela só ascendeu na carreira por “ter ficado amiga de Dilma Rousseff”.
Já na primeira, provocação, Graça mostrou que não está para brincadeiras.
Além das explicações oficiais da empresa, a nova presidente desafiou a Época a examinar seus contracheques e ver se ela recebeu algo indevido.
Fez muito bem.
E fará muito bem se não se enganar pela boataria que os jornais – especialmente O Globo, que nutre um especial ódio pela Petrobras – andam fazendo sobre possíveis (e naturais) troca de ocupantes de cargos de direção, como tratou ontem o blog do Zé Dirceu. Embora a armação já de início não se sustente, porque tanto Graça quanto o ex-presidente do PT, José Eduardo Dutra são servidores de carreira da empresa, é bom estar atento a isso o tempo todo.
Porque O Globo não se pejou de dizer que “estava sendo criada uma diretoria” só para abrigar o petista, embora tivesse a função tivesse sido anunciada publicamente antes mesmo da eleição de Dilma Rousseff.
Hoje, no finalzinho da resposta de Dutra, o jornal se comporta como o lobo da fábula, ao reconhecer que a decisão é antiga, mas emendar dizendo que “está sendo efetivada apenas agora”.
Sabem como é: se não foi você foi seu pai, ou seu avô…
29
Jan
Jan
O machismo da mídia
- Mas elas se comportam direitinho?
Três décadas e meia depois, o comportamento da imprensa em relação às mulheres que chegam aos cargos de poder político parece lembrar este comportamento.
O Estadão, a partir de uma boa reportagem de Sérgio Torres, onde a futura presidente da Petrobras, Maria das Graças da Silva Foster, é apresentada como uma lutadora, boa mãe e amiga, militante política e até capaz de fazer-se pequenas tatuagens, é chamada de “dama de ferro”;. Expressão, aliás, que o repórter jamais utiliza.
Em outra “reportagem” a coisa é com Dilma. É chamada de autoritária e até – novamente a editoria – tem sua antessala definida como “sala de torturas”, porque todos teriam medo do que irá acontecer ao encontrarem a presidenta. O seu defeito? Ela “se irrita com promessas não cumpridas, projetos que não param em pé, pressão de aliados políticos por cargos no governo e “vazamentos” de notícias. Erros de português e números trocados também a tiram do sério”.
Ora, francamente, era para gostar? Cidadãos adultos, Ministros de Estado, dirigentes de empresas públicas, só porque vão tratar com uma chefe mulher devem esperar, ao deixarem de ser consistentes e competentes, a serem tratados na base do “bilú-bilú”? Isso é uma idiotice total e, que espera algo assim, não deve levar uma, mas duas broncas: além da ineficácia, outra pela visão deformada que têm da condição feminina.
Mas como Dilma e Graça são mulheres, o fato de serem chefes exigentes é – e nem tão veladamente assim – criticado. “Gerentona”, “dama de ferro”, “duríssima”, “exigente” são alguns dos rótulos que lhes pregam.
Ora, as duas têm um trabalho duro, difícil, onde cada erro, além da exposição política, causa prejuízo ao povo brasileiro. Não estão ali por carreira ou brincadeira, nem pelo salário, apenas. Têm uma imensa responsabilidade.
Fossem homens, ninguém iria lhes cobrar gentilezas e rapapés. E é exatamente por esse comportamento machista, que acha que mulheres devem ser “polianas” que, às vezes, até têm de subir uma ou duas oitavas o tom do comando, porque sempre vai haver um bobalhão achando que ordem de mulher não é como ordem de homem e que é possível enrolá-las com “jeitinho”.
Ter chefe exigente e “cobrador” nunca foi problema para ninguém.
Pessoalmente, trabalhei por mais de 20 anos com uma pessoa tida como difícil e autoritária, Leonel Brizola. Nem era, mas também não era “um docinho”, nem deveria ser. Isso nunca me fez mal algum e muito menos me tornou um cordeirinho amedrontado, por duas razões.
A primeira, retidão e lealdade. A segunda, um própósito em comum, como se deve ter quando se está em um projeto de mudança de um país. Levei algumas broncas e “peitei” algumas coisas e ninguém saiu machucado disso. E ele próprio, o mais velho, tomava a iniciativa de minimizar o estrago: “lenha boa é que sai faísca”, dizem bem os gaúchos.
Será que deve ser diferente só porque é uma mulher?
Mas a imprensa, infelizmente, reproduz essa visão machista que deveria ter ficado no passado de um país onde, felizmente, as mulheres começam – e apenas começam – a ter papéis decisórios secularmente “pertencentes” aos homens.
Nossos meios de comunicação, tão “moderninhos” e “politicamente corretos” deviam ter vergonha de pensarem como há 35 anos pensava o irmão Marinho, parte de um tempo no qual o mais importante que se podia dizer de uma mulher era ser “senhora do Fulano de Tal”.
Que vergonha!
Narra o “Estadão”: “O Supremo está emparedado por pessoas que querem abalar os alicerces do Judiciário”,brada Henrique Nélson Calandra, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB)”.
Excelência, com a vênia que lhe pede um leigo, isso parece ser uma acusação, e a acusações, se bem me recordo, carecem de um mínimo de provas, se estão na esfera pública.
Do contrário, são apenas política.
E no campo da política, a discussão é livre.
Politicamente, o pronunciamento do presidente da AMB, feito num evento público, é de uma total irresponsabilidade:
“”Estamos vivendo no Brasil (…) um momento onde aqueles que deveriam zelar e velar pelas garantias constitucionais brasileiras muitas vezes assumem posição de afrontar. O Supremo tem sido sistematicamente afrontado”.
Opa! Quem é que está afrontando as garantias constitucionais, Excelência? Que decisão judicial não está sendo acatada? Que tribunal está sendo desrespeitado? Em que o Supremo tem sido afrontado?
É o caso de indagar: quem quer abalar o Judiciário são aqueles que chamam a atenção sobre possíveis desvios, que fazem com que alguns percebam do Estado – ou de terceiros – valores que precisam ser explicados ou os que trazem à luz estes fatos?
Juízes são cidadãos e servidores, como todos. É da essência da República.É próprio do Estado de Direito.
É curioso que esse discurso jamais tenha surgido quando acusações – até mesmo muito menos graves – pesam sobre Ministros de Estado ou parlamentares. Ninguém, e seria absurdo que o fizesse, disse que o Executivo ou o Legislativo estavam sendo afrontados ou emparedados.
Ninguém foi contra exigir que o ex-ministro Palloci, por exemplo, indicasse a origem de seus ganhos. E a chefe do Executivo, oferecida a possibilidade de explicação e defesa, sempre agiu com firme prudência.
Ninguém, até agora – salvo integrantes da mais alta cúpula do Judiciário – disse que há banditismo na Justiça. E o fez depois de chegarem às suas mãos, pelos meios legais, informações estarrecedoras sobre movimentações financeiras.
Não se tem notícia de ninguém que tenha se expresado com um décimo da virulência que faz hoje o ex-presidente do TJ do Rio de Janeiro, Marcus Faver, em entrevista a O Globo:
A imprensa tem denunciado gravações apontando venda de sentenças por juízes…
FAVER: Isso é muito grave, gravíssimo. Se há isso, é crime e o autor disso, me desculpe a expressão, se for um juiz deve ser enforcado em praça pública.
Quem vende sentença tem que ter essa punição?
Quem vende sentença tem que ter essa punição?
FAVER: A punição maior. Um enforcamento em praça pública
Ninguém está procedendo com tais arroubos. Ninguém está propondo que se faça, mesmo aos maus juízes, nada que não a aplicação da lei, que não não enforca, nem literal nem figurativamente. A severidade que se quer é o cumprimento estrito da lei, o direito de defesa, a observância dos direitos da coletividade como maior que o mero interesse pessoal.Ninguém mais do que os fracos precisam do Judiciário. Ninguém mais do que a multidão de pobres deste país, ajuda a remunerar, com dignidade, seus mais elevados servidores.
Ao Judiciário, mais do que a qualquer um, deve competir a tarefa de por-se acima de suspeitas, para que não o encaremos como parcial e hipócrita e não com o respeito que o vemos.
Mas, ainda no campo da política, o que se depreende de, sistematicamente, o “dura lex, sed lex” no Brasil ser o contrário do que o simplório capitão Rodrigo Cambará diz em “O Tempo e o Vento”:
- Buenas, e me espalho. Nos pequenos dou de prancha, e nos grandes dou de talho.
Não é hora de nossos magistrados verem que não é possível ir de talho nos humildes do Pinheirinho e nem de ir prancha nos grandes, ao aceitarem que se apure os eventuais abusos e comprometimentos nas estruturas da Justiça?
Certamente é muito mais lúcido e democrático do que rugir por uma suposta ameaça às intituições que, além de proteger eventuais culpados por desvios, ameaça uma crise institucional, terreno onde medra o golpismo contra as próprias instituições e a democracia.
Este, sim, devemos perguntar a quem interessa, e não é difícil saber que é aos que não atingem o poder pelos caminhos da vontade popular.